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11 de julho de 2004

MINIMALISMO SONORO

Conheço várias pessoas capazes de dormirem em qualquer sítio, qualquer que seja o ruído que os rodeia. O meu irmão, por exemplo, é perfeitamente capaz de ressonar a sono solto no cinema, mesmo com o Dolby Stereo a plenos pulmões. Eu, pelo contrário, sou como o meu pai e não consigo adormecer se houver algum ruído persistente irritante — como, ontem, o ruído do frigorífico combinado arraçado de arca congeladora em necessária descongelação, das gotas de água do gelo derretido a pingar para o cesto de recolha, dos blocos de gelo que a espaços se desprendiam das paredes ou das prateleiras do congelador e caíam sonoramente na prateleira de baixo antes de se derreterem em direcção ao cesto. Entre a meia-noite e as três da manhã, dormir foi possível apenas intermitentemente, inquietamente, com a insistência da goteira a invadir com uma qualquer urgência indecifrável a necessidade de dormir, o bloco de gelo pontual a sobressaltar o torpor sonolento. Depois, o cansaço acumulado lá venceu, se bem que a muito custo, o minimalismo repetitivo das leis da gravidade e da térmica aplicadas a um frigorífico que necessitava de ser descongelado já há uns valentes meses.

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