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13 de julho de 2004

DO THE SASHIMI

O meu amigo António, que foi quem primeiro me quis converter às delícias da comida japonesa, gosta de contar a história daquela vez em que, num restaurante japonês em Paris, pediu sushi e a empregada achou por bem avisá-lo do conteúdo do prato: "poisson clu! poisson clu!". A parte mais divertida para o leigo como eu foi perceber que o "peixe cru" não é tanto o sushi — que ainda assim é um prato preparado, já que o "peixe cru" vem envolvido num rolo de arroz fechado com uma fina fatia de alga — mas sim o sashimi, que é um pequeno filete do peixe cru propriamente dito, cortado com infinita delicadeza para se poder levar um pedaço inteiro à boca sem alarvar, sem nenhuma fuga possível à estranheza do objecto: é mesmo peixe, é mesmo cru, e não há nada que o esconda.

A minha primeira experiência mais séria, num restaurante japonês digno, foi-me proporcionada pelo meu estimado amigo e vizinho Paulo, e embora o sushi não me tenha convencido grandemente e os pauzinhos levem uma certa habituação a usar, logo à primeira fiquei rendido ao paladar delicadíssimo do sashimi. Hoje, repetindo o manjar com a minha querida amiga Helena, voltei a salivar com o tenríssimo filete de peixe (não exactamente) cru (porque marinado previamente), que depois de devidamente passado pelo salgado molho de soja onde se diluiu previamente um pouco de wasabi (a pirómana mostarda verde pouco recomendada a paladares sensíveis), quase se derrete na boca.

É um prazer gustativo como há poucos, misto de simplicidade zen em levitação e requinte gastronómico de luxo. Pena que os restaurantes japoneses sejam estupidamente caros.

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