Blog-notas de ideias soltas; post-it público de observações casuais; fragmentos em roda livre, fixados em âmbar. Eu, sem filtro. jorge.mourinha@gmail.com
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24 de junho de 2004
O PATINHO FEIO
"Pedaços de uma Vida" é um título muito idiota. O António Rodrigues diz hoje no Diário de Notícias que parece título de telefilme e tem toda a razão, mas o filme de Peter Hedges (estreia hoje: Alvaláxia, Corte Inglés, Quarteto, AMC e Freeport Alcochete) é tudo menos um "caso da vida". Rodado em câmara digital à mão, quase como um documentário-"vérité", é uma desconstrução inteligente do que significa (não) pertencer a uma família.
April, a "ovelha ranhosa", rebelde e iconoclasta, de uma burguesa e conformada família suburbana, convida-os para o almoço do Dia de Acção de Graças em sua casa, como gesto de boa vontade para "fazer as pazes" com a mãe que tem um cancro em fase terminal. Mas tudo conspira para o desastre: April é tão mal vista que a viagem até Nova Iorque mais parece um sacrifício insuportável, isto enquanto o fogão da miúda se decide a avariar na pior altura.
"Pieces of April" (excelente e subtil título original) parece ser uma comédia do desastre, mas é na realidade uma meditação sobre os laços do sangue, onde o essencial é mostrado quase de passagem, de modo elíptico, em duas, três cenas onde a intensidade dos actores e a inteligência da realização afastam todas as fachadas que não são mais do que preconceitos, obstáculos facilmente ultrapassáveis; um estudo sobre o que significa precisar de alguém. Doce-amargo, como sempre é qualquer filme que acerte na mouche do que é viver em família.
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