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5 de junho de 2004

LOGBOOK #8: PLUS ÇA CHANGE

Sesimbra: Ponta da Passagem, sábado 5 de Junho, 11h32: 13.4m, 55min, 14º C

É a minha primeira memória dos fundos de Sesimbra: a Ponta da Passagem, à beira do Cabo Espichel, não muito longe do célebre Riva Gurara, foi o primeiro mergulho "oficial" que fiz depois de tirar o curso, há pouco mais de sete anos: mergulho costeiro encostado ao paredão rochoso, relativamente abrigado, há vida e recantos para explorar a pouca profundidade (na sua cota máxima, o spot não ultrapassa os 14 metros, o grosso do mergulho faz-se entre os cinco e os oito metros de fundo). O nome — Ponta da Passagem — vem de uma saliência no paredão que, debaixo de água, "abre" numa larga passagem subaquática forrada a vegetação. Para um iniciado, atravessar aquele anel de rocha, ver como, do outro lado, a água parece reconquistar o azul turquesa, descobrir o fantástico jogo de sombras que a difusão da luz do sol permite, é mágico.

Voltar à Ponta da Passagem quatro anos depois da anterior visita foi reencontrar um velho conhecido, com soberba visibilidade (dez metros à vontade); reencontro um pouco toldado pela força da corrente amplificada pela proximidade da costa, visível nos espessos tapetes de algas que deslizam pelos raros fundos arenosos. Uma profusão de ouriços de cores mudas (amarelo, azul, verde, laranja) forram as rochas, um ruivo meio escondido levanta vôo com as suas barbatanas em forma de asa orladas de um azul ultravioleta.

Reencontro também a célebre gruta que mais não é do que uma cavidade aberta em dois lados (o topo e a enorme saída, a fraca profundidade, cinco metros em maré cheia; lá em cima vejo a superfície prateada da água em movimento). Enormes pedregulhos à entrada têm pequenas anémonas brancas a crescer na zona virada para o interior; a prudência faz-me assinalar ao atento Vitorino para não avançarmos, embora mal tenhamos entrado e já se veja o fundo no foco da lanterna. Ao invertermos direcção, o ir e vir das ondas cria uma curiosa ilusão visual: parados, apoiados numa rocha, vemos o fundo arenoso a deslizar sob nós como se estivéssemos a nadar rapidamente, com a corrente a levar e trazer areia e algas, de lá para cá, de cá para lá. A metáfora é apropriada: estamos parados, mas à nossa volta tudo muda. E, contudo, no trajecto de regresso a Sesimbra, o ocre das muralhas costeiras de rocha sólida reflectindo o sol de Junho sugere uma imutabilidade milenar e sábia, quase zen.

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