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3 de junho de 2004

A CULTURA DA COMPLACÊNCIA

Estava eu hoje a ler o Diário de Notícias, como é meu hábito às quintas-feiras, e a olhar para a cobertura da campanha eleitoral para as europeias, e a perceber que o está a ser realmente importante nesta campanha não são as opções de fundo, as políticas laborais, económicas, sociais: são os fait-divers que rodeiam tudo isto. O PS e o CDS-PP emaranham-se numa troca de mimos mais ou menos birrentos, com o CDS-PP a ser mal-educado e depois armar-se em virgem ofendida quando o PS responde pela mesma bitola (embora ligeiramente mais educado); o PSD tenta passar ao largo disso tudo mas não consegue por causa do tal almoço "privado"; o PCP refugia-se na cassete envelhecida e o Bloco de Esquerda tenta passar por baixo do radar mas não consegue por ter o irmão do ministro; os outros bem tentam que lhes liguem alguma coisa. Tudo isto parece uma má série de comédia.

A política, como dizia alguém em tempos (peço desculpa de agora não me recordar quem), é demasiado importante para ser deixada aos políticos. Ainda por cima, os que nós temos não são nada brilhantes. Mas são os que temos, e confesso que isto não augura nada de bom. Fosse eu um daqueles democratas resmungões que se lembram do tempo da outra senhora e diria "foi para isto que se fez o 25 de Abril?". Mas como não sou prefiro dizer que foi para isto que se fez o 25 de Abril. O que não quer dizer que não esteja a fazer falta dar um abanão sério nos alicerces de uma classe que está demasiado acomodada. Se de caminho o português acordasse desta letargia do deixa estar, mais interessada no Euro e no Rock in Rio e no OVNI e nos Morangos com Açúcar do que efectivamente na política — que, para o mal e para o bem, ainda influi mais directamente nas nossas vidas do que a televisão e o futebol — não seria nada mau.

Eu cá não acredito muito nisso, mas isso pode ser porque costumo ser cínico e li o jornal hoje de manhã.

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