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6 de maio de 2004

UMA ESCOLHA QUE SE FAZ



"O Meu Ídolo" (estreia hoje no Quarteto, em Lisboa) é um filme sobre a perda da inocência por um jovem que quer singrar no mundo da televisão contemporânea e que se vê confrontado com a sordidez e a venalidade dos seus bastidores durante um fim-de-semana durante o qual o seu ídolo, um galardoado produtor de programas de telelixo, o convida para uma casa de campo para discutir um possível projecto. Posto desta maneira, ainda por cima sendo um primeiro filme francês, dá vontade de fugir a correr, não dá?

Não é de facto o melhor filme do ano nem nada que se pareça; sofre de várias fraquezas inerentes a ser um primeiro filme, mas possui uma segurança e uma ousadia que não são nada normais em realizadores estreantes. E, sobretudo, é inteligente no modo como, à imagem e semelhança do protagonista que se vê cada vez mais enterrado num lamaçal escondido por trás das luzes, dos cenários e do glamour, vai desmontando com um humor que raia o absurdo e a loucura as ilusões interiores que muitas vezes construímos só a partir de uma fachada exterior. O filme está constantemente a mudar de tom e de estilo, mas consegue a proeza de que as guinadas abruptas que vai dando nunca pareçam implausíveis ou meramente diletantes. Há aqui talento em acção.

No mais, é muito fácil, até mesmo óbvio, escolher o telelixo e o "reality show" como alvo preferencial. Mas é, como diriam os outros, "uma escolha que se faz", quanto mais não seja porque é importante pensar, mais ainda, no que é que esta televisão representa e significa.

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