O Diário de Notícias anuncia hoje mais uma colecção de DVDs para sair ao domingo — e que, como já começa a ser hábito nas colecções do Diário de Notícias, apesar do esforço feito nos DVDs do DNa à quinta-feira, dá toda a ideia de ser um escoamento de filmes de segunda escolha do catálogo DVD da "casa-mãe" Lusomundo. Mas a questão nem sequer é essa — pelo andar da carruagem, todos os dias há um "extra" qualquer para comprar com um jornal qualquer, entre discos e livros e outras coisas, tornando o jornal no supérfluo da questão, quando deveria ser ao contrário. E muita gente há que já só compra os extras, sem o jornal, ou deixando o jornal no caixote do lixo mais próximo, numa espécie de frenesi consumista de completar a colecção para fazer boa figura na estante ou na prateleira. Como se não importasse o que se está a comprar, mas apenas fazer a colecção, dizer que se tem.
No fundo, esta coisa dos "extras" dos jornais dirige-se na perfeição ao consumismo novo-rico do portuguesinho que gosta de fazer um vistaço com a cultura que vai acumulando na estante, mas que se calhar nunca pega nos livros nem nos discos nem nos filmes. E aos bolsos das editoras de livros, discos e filmes, que realizam vendas que nunca conseguiriam no mercado normal.
Mas um dia, com tanta colecção e tanta edição, o balão de ar vai estoirar. A proliferação deste tipo de colecções poderá ser perigosa para o mercado normal, ao desvalorizar o preço e o valor facial do produto; no caso do DVD, por exemplo, como é que as pessoas vão à loja pagar 15 ou 20 euros por um DVD que algumas semanas mais tarde vai sair a metade do preço com um jornal? E, quando estes extras estiverem de tal modo vulgarizados que a sua mais-valia para as vendas do jornal desaparecer — se a qualidade do produto ou a sua raridade deixarem de ser os diferenciadores que justificam o investimento? Aí, como é que vai ser?
Os jornais terão de inventar outro gancho para agarrar o público — mas e quando os ganchos esgotarem? Como poderá um jornal que sobreviveu à conta de dar mais-valias ao público sobreviver sem essa mais-valia? Para já, está tudo muito bem. Mas convirá proteger o futuro, porque em Portugal pensa-se pouco a longo prazo estratégico, sobretudo quando os olhos estão todos nos resultados de hoje...
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