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15 de maio de 2004

LOGBOOK #6: A LEI DA COMPENSAÇÃO

Sesimbra: Baía da Armação, sábado 15 de Maio, 11h04: 16.7m, 45min, 14º C

Deve ter sido para dias assim que se inventou o mergulho: uma brisa fresca q.b. para compensar o sol quente e o céu azul irradiante que promete Verão; um mar turquesa iridiscente escondido, à ida, por baixo de ondinhas insistentes orladas a branco, tranquilo e liso à volta; uma nuvem branca ao longe, como o toque discreto para fazer sobressair a luz.

A fauna subaquática parece estar a acompanhar a felicidade indecifrável do dia — nas pedras que acompanham a progressiva subida da linha de costa, desde o deserto de areia que termina/começa aos 15 metros até às rochas que se erguem quase até à superfície, é um turbilhão de peixes de múltiplas espécies e tamanhos, com o castanho como tom predominante, perfeita camuflagem entre as pedras marmoreadas de erosões e incrustações, cobertas de anémonas, algas em explosão. Um polvo grande, azulado à luz natural coada pela água repleta de suspensão, passeia pachorrentamente à esquina de um rochedo; ali, um pequeno peixe (uma espécie de caboz, dir-me-ão mais tarde), de um forte laranja-avermelhado com uma cabeça azul-noite, brinca pelo meio de anémonas.

45 minutos assim compensam tudo: compensam a descida em falso a cinco metros durante o qual o José me perde de vista e decide despreocupadamente continuar o seu mergulho sózinho, ali à roda da pedra que marca a "entrada" da Baía, sem dar cavaco a ninguém; a minha emersão para ver se o vejo e, não o vendo, consequente junção ao quarteto de amigos que seguia no barco e ainda não tinha descido; a progressiva diminuição do agora quinteto — o Miguel não compensa e retorna ao barco, o Jesuíno, em primeiro mergulho depois do curso, vê-se à rasca com o controle da flutuablidade e acaba por subir sem darmos por isso, o Fernando vai em busca do Jesuíno — ao duo de mim e do Pedro, em lenta e pacata progressão contra a corrente em direcção à costa.

45 minutos assim compensam os mergulhos mais difíceis, mais cansativos, mais frios, mais exigentes dos últimos meses. 45 minutos assim são uma recarga de baterias como não há outra. 45 minutos assim são some kind of wonderful, para citar o filme.

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