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13 de maio de 2004

AFINAL, SÃO PRECISOS DOIS MILAGRES

"O Milagre Segundo Salomé", de Mário Barroso (estreia hoje em praticamente todo o país), é aquela raridade que, por o ser, deve ser devidamente acarinhada, divulgada e patrocinada — um bom filme português que não insulta a inteligência de quem o vê, que não se dirige a meia-dúzia de iluminados formados na escola francesa do cinema de autor, que não parece um telefilme feito por tuta e meia e ampliado para 35mm, que não tem actores artificiais e distantes.

"O Milagre Segundo Salomé" é aquilo que o cinema português já devia saber fazer há muito tempo mas não sabe, não sei se por teimosia se por incapacidade se por estratégia: uma história bem contada, bem filmada, bem representada, que não se esgota na hora e meia de projecção. Ainda por cima é uma adaptação relativamente livre do romance de José Rodrigues Miguéis que lhe deu origem, mas que consegue respeitar a essência e o espírito do universo de época do escritor.

Haveria tudo para "O Milagre Segundo Salomé" poder congregar à sua volta os favores do público e da crítica. Eis senão quando...



Com um cartaz/anúncio destes — que pode ser artisticamente muito bonito (embora eu não o ache), mas é absolutamente nulo como chamariz para um filme que é tudo menos uma seca de autor — como é que se convence alguém a ir ver um filme? E, pior: como é que se prefere colocar este cartaz nas salas e este anúncio nos jornais quando...

...isto, sem ser extraordinário, existe e é significativamente mais atraente?

Que irritação: finalmente um grande filme português que vale realmente a pena ver... e eles não o sabem vender.

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