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29 de abril de 2004

UM PEQUENO FRASCO DE PEDRAS

Afinal, são um pouco mais de uma dúzia, de cor clara, esbranquiçada, algumas apenas fragmentos, outras do tamanho de um pequeno bombom. Exalam um forte aroma acre, têm ainda algumas gotas de sangue à volta. Estão guardadas num frasquinho de plástico translúcido. Como é possível algo de tão pequeno magoar o meu pai como magoava?

Duas horas na mesa de operações para retirar esta dúzia de pedras que resistiram ao raio laser com que se tentou destruí-las, mais para golpear a próstata e desinchá-la. Hoje é que o meu pai está ressacado, da anestesia que o fez vomitar ontem à noite, do cansaço e da tensão de estar no ambiente asséptico, anónimo e triste, de um quarto de hospital antiquado, com dois livros e um pequeno televisor suspenso do tecto como única companhia; do soro e da algália que o forçam a estar deitado na cama enquanto o organismo retorna lentamente ao normal.

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