A caminho de casa para ir buscar o pijama sobresselente do meu pai, e depois no curto percurso para o hospital, olho para as ruas do bairro onde cresci e vejo-as antigas, decadentes. A velha loja da Maconde onde só se entrava com cartão de compras já há muito desapareceu, a sua porta dá acesso a um restaurante indiano de mau aspecto. A velha livraria Bragantina, onde eu passava horas todos os Setembros para comprar os manuais do liceu, já tem nas montras os sabonetes e shampoos das lojas de bairro que procuram resistir à crise. Os papéis pardos e esbranquiçados que tapam as montras de lojas vazias. Quem entrar no bairro pela rua Forno do Tijolo ainda terá um semblante de normalidade, apesar da velha Grande Feira do Disco ser hoje mais uma loja chinesa; quem sair pelas ruas que descem da Graça para o Intendente não reconhecerá nada. Penso nisto por causa da "nossa" casa, o velho apartamento onde os meus pais insistem em continuar a morar mas que começa a exalar o aroma bafiento das casas velhas onde moram aqueles que o mundo já esqueceu.
Os meus pais não estão esquecidos, muito longe disso; às vezes penso é que preferiam que o mundo os esquecesse.
Sem comentários:
Enviar um comentário