Apetecia-me dizer o quanto amei Uma Thurman em "Kill Bill Vol. 2".
Apetecia-me dizer o quanto gostei de ler este texto da brasileira Katia Abreu para o qual o Vítor Junqueira chamou, e bem, a atenção.
Apetecia-me dizer o quanto me desgostam Paulo Portas e os seus lacaios do PP; pela má educação da pastilha elástica, pela irritação birrenta e intolerante que manifestam com tudo aquilo que não é conforme às suas próprias ideias, pela insistência em valores de uma direita reaccionária e cada vez menos democrática, pelas críticas abertas às declarações do Presidente Jorge Sampaio. (Pormenor curioso: na parada do 25 de Abril, quando o ministro Portas foi vaiado, não vi nenhum militar que não tivesse esboçado um sorriso, por mais ténue e imperceptível que fosse.)
Apetecia-me dizer o quanto me agrada saber que o tribunal declarou a interrupção das obras do túnel do Marquês, o quanto me agrada a enormíssima bofetada na cara de Pedro Santana Lopes que essa decisão representa.
Apetecia-me dizer o quanto a inenarrável recensão de Maria Augusta Silva hoje no Diário de Notícias sobre o romance de Manuel Alegre, "Rafael", me aterrorizou pela queda no lugar-comum hermético do discurso intelectual(izado) de uma certa intelligentsia, ao falor da "utopia fundadora da busca", da "cultura do não-lugar", do "tempo da narração humanizante", da "figuração magnetizante" (nem falta a citação de Roland Barthes). Lembrei-me do vazio parentético, do esbatimento da clivagem e de outros momentos grandes do absurdo insignificável (e insignificante) da escrita intelectual nacional.
Apetecia-me citar alguns versos de uma canção chamada "Do Que um Homem é Capaz", do novo disco de José Mário Branco (há princípios e valores / há sonhos e há amores / que sempre irão abrir caminho), porque são precisamente aquilo em que preciso de acreditar, hoje.
Apetecia-me dizer isso tudo e muito mais. Mas o meu pai vai ser operado amanhã, a minha mãe vem cá para casa uns dias enquanto ele está no hospital. E, por isso, não me apetece dizer nada agora.
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