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2 de abril de 2004

POLAROID JANTAR

Já passa das oito e meia quando entram; ele de fato escuro, gravata clara impecável sobre camisa branca, ela de conjunto bege. Discutem o menu; ela protesta, "então vais pedir logo o que de mais forte está no menu? queijo da serra e tornedó?", antes de ficar agarrada ao telemóvel a falar com os filhos: primeiro a Maria, uma vez, depois o Tomás, duas vezes, tratando-os alternadamente por "tu" e "você". "Tem dinheiro? Não? Peça ao tio Vasco. De quanto precisa? Acha que cinco euros chega?".

A voz ressoa no restaurante com pouca gente, às tantas levanta-se uma espécie de altercação polida com o Tomás, que vai sair à noite e não quer esperar pela chegada da mãe; esta nunca altera o tom de voz (limita-se a mudar do familiar "tu" para o mais formal "você"), mas o companheiro (esposo? amigo? companheiro?) irrita-se e, num tom peremptório, quase executivo, de patriarca ofendido na sua dignidade, diz que ela não tem nada que dar satisfações, que desligue o telemóvel. Ela não faz nada disso, embora comente que "o José está aqui a ficar irritadíssimo". "Fez a barba? E já jantou? Pergunte à Maria o que é que ela comeu. Não saia sem jantar e peça dinheiro ao tio Vasco."

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