A administrativa que processa a recepção das consultas procura desesperadamente encontrar um documento num dossier enquanto deflecte as perguntas repetitivas que alguém lhe faz do outro lado do telefone. Repete sistematicamente que a senhora pode vir esta tarde ser atendida na urgência ou na segunda-feira à doutora, mas a pessoa do outro lado parece não perceber o que lhe está a ser dito e insiste nas mesmas perguntas que recebem as mesmas respostas. A administrativa tenta interromper a chamada, dizendo que tem a sala cheia (verdade) e que tem pessoas à espera para atender, mas do outro lado da linha o interlocutor não lhe dá tréguas. Ninguém na sala parece estar incomodado com o interminável diálogo, à excepção da senhora que está sentada à frente da administrativa, que diz a certa altura que a senhora é "uma granda melga" que tem de ser despachada.
Na sala de espera, enquanto não entro para a consulta, há um senhor idoso que resfolega como um cavalo (algum tipo de perturbação da respiração, ou geração de muco). A sala está em silêncio, entrecortado apenas pelo som das televendas no televisor, no intervalo de um qualquer talk-show para domésticas provincianas, até que alguém sai de uma consulta e, encontrando um conhecido no corredor, iniciam um daqueles diálogos muito portugueses que versam essencialmente sobre as doenças de uns e de outros, sobre as fracas perspectivas de melhoras, sobre a resignação do "cá se vai andando", o todo a ecoar na pedra das paredes frias e modernas. Depois regressa o silêncio.
A comichão e o pequeno vermelhão que tenho ao lado do seio (também se usa a palavra para os homens? que estranho) há algumas semanas é, aparentemente, uma pequena dermatite eczemática sem nada de especial.
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