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4 de abril de 2004

BLOGO, LOGO EXISTO #6: UNIVERSOS CONTÍGUOS

E se a razão pela qual aqui me exponho diariamente fosse uma espécie de pedido de ajuda? Um chamamento a uma alma gémea (quem quer que seja, onde quer que esteja) que me ajude a fazer sentido das coisas, a sair do casulo que construí para mim próprio? Uma procura de alguém que me diga: sim, não estás sozinho, não, não estás louco, sim, há mais como tu, perdidos, à procura de um sentido, de uma lógica, de um recanto?

E se tudo isto não passasse de uma tentativa de provar a mim mesmo que sei o que faço, que tenho valor, que não sou apenas mais um cidadão anónimo entre milhões e que tenho algo que me torna diferente, talvez não melhor mas certamente diferente?

E se tudo isto for apenas a solidão a falar? Ou a necessidade de atenção? Ou apenas um desabafo? Ou apenas a misantropia que nunca identifiquei e agora vem ao de cima? Ou, apenas, um momento mau? Ou apenas uma qualquer perversa terapia pública?

O mundo lá fora é-me demasiado estranho; dele me protegeram durante a minha infância e parte da adolescência, para depois ser eu a resguardar-me. Hoje percebo que foi o pior que podia ter feito. Criei um universo paralelo que intersecta o mundo real à distância de um teclado, de um écrã, de um telefone. E, nas palavras de David Byrne, "I feel an empty space where love could be/ in adjoining universes/ touching here and there". É esse o vazio que me consome. Não hoje, apenas, mas desde há anos, sem eu o saber. Como um cavalo de Tróia que se infiltra sem darmos por isso até ser demasiado tarde e o estrago estar feito.

Escrever estes posts pode ser - é - uma espécie de analgésico: um modo de adormecer a dor, de fingir que não se tem nada. Mesmo que por pouco tempo.

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