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15 de abril de 2004

AQUELE VERÃO



Há uma imensa seara de trigo, amarela, a perder de vista, sob um céu impiedosamente azul e um sol de Verão abrasador. E miúdos que a atravessam em bicicletas, naquela sofreguidão egoísta e insaciável da infância, de querer brincar até ao caír do dia com os amigos, de esticar ao máximo o tempo antes de ter que se voltar a submeter às regras do mundo real. Mas, no decurso dessas brincadeiras à solta, longe da vigilância familiar, um dos miúdos - o mais sensível e sonhador de todos os amigos daquele povoado miserável perdido nos confins da Itália rural - descobre um segredo. Um segredo que, sem ele o saber, não o afecta só a ele mas abarca toda a aldeia onde mora com a mãe carinhosa mas preocupada, com o pai camionista que passa a maior parte do tempo em viagem a tentar sustentar a família.

"Não Tenho Medo" é sobre como nunca estamos preparados para crescer e como, quando os momentos realmente decisivos na nossa vida surgem, continuamos a ser crianças. "Não Tenho Medo" é um filme infinitamente sensível que entrelaça com uma delicadeza invulgar as esferas do privado e do público, do pessoal e do social, porque aqui se fala dos erros que as pessoas cometem quando são levadas ao desespero pelo mundo que as rodeia, e de como por vezes basta um olhar inocente para mostrar a solução. É também - por razões que prefiro não revelar para não estragar a surpresa a quem o vir - um filme particularmente actual. Vem de Itália, é realizado por Gabriele Salvatores, estreia hoje com oito cópias, condenado a desaparecer por daqui a quinze dias. Devo ser a única pessoa a achar que é capaz de ser o melhor filme que estreou nas últimas semanas e que vai estrear nas próximas.

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