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28 de março de 2004

A MARCA AMARELA

Ontem abriu a extensão do Metro de Lisboa até Odivelas e a reportagem do noticiário da RTP-1 sobre a ocasião foi hilariante. Escolhem-se três transeuntes ao acaso para o já célebre "inquérito de rua" - que, tradicionalmente, já de si é hilariante por tudo o que de mau revela na natureza portuguesa.

O primeiro é um jovem da geração Morangos-com-Açúcar que mal sabe articular uma frase mas, pronto, acha que a extensão a Odivelas vai dar muito jeito porque vai levar muito menos tempo a chegar a Lisboa. O segundo é uma senhora matrona que, para mal da pobre jornalista, trabalha em Loures e logo não tinha problemas de transporte.

O terceiro é um senhor que, em vez de manifestar o seu contentamento por ter metro até casa, protesta porque o metro até Odivelas é 53% mais caro e a estação nem sequer fica no centro de Odivelas. Ou seja, é a verdadeira definição de pobre - porque acha que um euro de bilhete de metro é uma roubalheira, sobretudo comparado com a gasolina que vai poupar por não ter de se meter nos engarrafamentos diários - e mal agradecido - porque queria mesmo era ter metro à porta de casa. E, pior, pobre e mal agradecido convencido que, agora, porque tem metro, Odivelas já não devia ser um subúrbio e deveria ter os mesmos direitos do centro urbano lisboeta. Que eu me recorde, nunca ouvi ninguém protestar por o passe social ter coroas de diferentes valores consoante a distância percorrida - porque é que o metro havia de ser diferente só por chegar a Odivelas?

Dito isto, adivinhem qual é a linha que me fica mais próxima de casa - exacto, é mesmo a linha amarela que foi agora prolongada para Odivelas. E, numa breve viagem de metro esta tarde, já deu para perceber a quantidade de suburbanos que veio dar uma voltinha a Lisboa esta tarde para experimentar a ligação - é vê-los a percorrer os cais lentamente, a observar os pormenores das estações, e depois, em vez de sair da estação, mudar de direcção e apanhar o comboio para casa. Acabou de se descobrir um novo passeio dos tristes - em vez de se ir ao shopping, vai-se andar de metro até Lisboa. Turismo metropolitano.

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