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24 de março de 2004

A MANIF AO PÉ DE CASA

As políticas educacionais do(s) governo(s) são uma treta? São. É indecente obrigar alunos que não têm posses a pagar propinas que não podem pagar? É. No que me diz respeito, a minha simpatia com as reivindicações estudantis que hoje pararam o trânsito alguns minutos no Largo do Rato a caminho da Assembleia da República ficam por aí: muito sinceramente, a maior parte das manifestações estudantis já são uma espécie de "ritual" da vida académica - embora lá contestar o ministro, baldarmo-nos a umas aulas e curtir com os amigos. Cada geração faz as suas (eu próprio também lá andei) e depois olha para as dos sucessores com desprezo, "as minhas é que eram fixes...".

Estou a ser redutor? Possivelmente. Não se deve tomar a parte pelo todo. Mas quando olho para os manifestantes que contestam as propinas elevadíssimas que têm de pagar, vestidos com roupas de marca ou com traje académico completo, com aspecto de quem come três refeições por dia, a mandar sms para os amigos todos, confesso que acho todas estas manifestações birras mimadas de fedelhos burgueses a quem aparece tudo feito. Conheço até quem tenha tirado o curso superior numa universidade privada por não ter conseguido entrada para uma pública - e, como todos sabemos, numa privada paga-se a sério.

Ou seja, o problema não é o princípio - é o abuso do princípio. E em Portugal assim que se dá uma mão agarra-se logo o braço. (Sim, eu sou um conservador de esquerda. Sou a favor do princípio mas não do abuso.)

De qualquer maneira, divertido mesmo foi ver os três polícias motorizados a conterem o trânsito para a manifestação passar. Cinco minutos antes de eles chegarem à entrada do Rato vindos da Alexandre Herculano, os três instalam-se na esquina da Álvares Cabral com a Rua de S. Bento e vá de, em cinco minutos, abrirem ali uma clareira para a multidão passar enquanto gesticulam freneticamente, apitam e gritam uns para os outros. "Oh Costa, pára-os aí!". Meia-hora depois a manif tinha passado e o trânsito fluia normal. Até pareceu a visita fantasma do sr. Blair, que só aconteceu nos telejornais do jantar (apesar de ter ouvido ao longe as sirenes das escoltas policiais), porque Lisboa não deu por nada.

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