Portugal parece por vezes funcionar por uma lógica de passa-a-outro-e-não-o-mesmo de desresponsabilização crónica. Há uns dias, falei aqui de uma peça na Time onde se falava dos cientistas europeus que se passaram para os EUA por aí ser mais fácil prosseguir com algum desafogo o seu trabalho; alguns dos entrevistados sentiam-se cerceados por uma burocracia kafkiana que conspirava para travar a pesquisa.
Portugal é um país de burocracia kafkiana - não sei se por resultado das décadas de obscurantismo atravessadas ou por genética enraizada - que nos força a contentarmo-nos com os pequenos triunfos quotidianos sem importância, na certeza de que será difícil ou mesmo quase impossível que ela se multiplique numa vitória decisiva. Não é de espantar que o futebol seja tão polarizador - é uma maneira de sublimar a modorra cinzenta de um quotidiano difícil - mas mesmo nessa polarização vêm ao de cima as peculiares características de "país do empata" que nós somos, em que uma decisão nunca é definitiva porque é sempre possível voltar atrás e ver as coisas sob outro prisma.
Olho para os jornais, vejo as notícias na TV, e não gosto do que vejo. Sei que sozinho não o consigo mudar, e não acredito que a maior parte das pessoas pense sequer duas vezes no assunto; é tão mais fácil criticar do que levantar o rabo da cadeira e fazer alguma coisa, é tão mais fácil deixar andar e esperar que sejam os outros a resolver os problemas. E o problema é mesmo esse: esperamos sempre que sejam os outros.
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