Visto da Ribeira, mesmo junto à velha ponte de Eiffel parcialmente revestida de andaimes, o mui apregoado Funicular de Guindais parece uma montanha russa.
Está vento e frio de inverno, seco e cortante como gosto. Parou de chover ontem; o céu azul está cheio de nuvens altas. Estou sentado no café envidraçado, café e água Vidago na mesa (só nunca gostei da água do Vimeiro, achava muito doce). Sou o único cliente às onze e meia de segunda-feira (mais à frente, chega o Miguel, daquelas coincidências que nunca aconteceriam se tivéssemos combinado). Lá fora, no rio treina-se canoagem. Um autocarro descarrega um contingente assinalável de adolescentes com aspecto de adeptos de futebol ingleses, fatos de treino e ténis de marca (à excepção do cromo com bota de cowboy de biqueira bem pontiaguda, blusão de penas e calça de ganga bem justa), traído pelo cerrado sotaque nortenho. Turistas tiram fotografias ao rio que corre veloz. Agora é tudo muito típico e muito turístico; mas há quem more aqui e se veja em palpos de aranha quando o rio sobe. E aí não há turismo nem tipicidade que resista.
À boca da praça, divirto-me a olhar para os bonés, bóinas, insígnias e outra militaria na "loja das bandeiras", peculiarmente colocada em frente ao hotel. Subo pela Bolsa; entro na rua das Flores e paro longamente a olhar para as montras dos alfarrabistas, uma delas tematicamente dedicada ao Carnaval. Espécie de guardiões de memórias que a mais ninguém interessam, à espera que algum interessado, por mera coincidência, ali vá dar. O Porto é assim para mim: uma caixinha de memórias e imagens que está sempre a abrir e a fechar.
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