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17 de fevereiro de 2004

POLAROID JANTAR

Na mesa do canto do bar onde janto, um executivo sozinho frente ao jornal. Em cima da mesa, um isqueiro sobre um maço de tabaco (Marlboro Lights), um copo alto, uma garrafa de água tónica quase no fim, um jornal aberto; camisa branca de colarinho triangular sem botão, gravata vermelha, fato azul escuro, sapato preto engraxado. Dos 45 minutos que levo a jantar, ele passa uns bons vinte ao telemóvel com uma voz cujo timbre feminino se ouve em surdina do outro lado da linha, talvez a falar de trabalho. Quando saio do bar, ele ainda lá está, o copo, a garrafa, o tabaco e o isqueiro a formarem uma linha recta acima do jornal onde parece embrenhado. Um aroma de solidão mistura-se com o fumo do cigarro; talvez só fazer tempo até regressar a casa, talvez só um oásis de calma no meio de um dia trabalhoso. Talvez só enganar o jantar sozinho que não se quer ter; de um modo tão válido como as polaroids que vou tirando enquanto eu próprio janto sozinho com uma revista por única companhia.

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