Quem me conhece sabe que não ligo a futebol - nunca percebi a atracção do jogo, aquilo que leva milhões de pessoas em todo o mundo a entregar-se-lhe com a paixão que conhecemos. Mas esta noite, jantando em casa dos meus pais com o televisor ligado no canal 1, vi o golo de Simão Sabrosa que deu ao Benfica o empate com o Porto.
E, nesse instante de transcendência em que o jogador reuniu todas as suas forças e as submeteu à sua vontade imperiosa de ultrapassar a defesa adversária e atirar a bola para o fundo da baliza, nesse momento onde a espontaneidade e a técnica se encontraram levando a uma efusiva explosão sonora no estádio da Luz, percebi porque é que o futebol arrasta multidões: por um momento, é-se maior que a vida toda.
É um golo tanto mais belo quanto transporta em si a improbabilidade de conseguir articular correctamente todos os parâmetros necessários para a bola encontrar a direcção certa. Como se a física quântica pudesse ser compreendida por instinto, como se a mais complexa equação matemática pudesse ser resolvida de olhos fechados por quem nunca a viu antes. É magia, sem outra explicação corriqueira; e se o futebol fosse o equivalente contemporâneo pragmático de um qualquer paganismo ancestral?
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