Uma das fitas que estreia hoje em sala é a versão cinematográfica das aventuras de Michel Vaillant, produzida por Luc Besson. Confesso que o objecto reenviou-me para a banda-desenhada franco-belga que eu devorava quando era miúdo, na passagem dos anos 70 para os anos 80, na revista Tintin e nos álbuns cartonados de capa dura que a Bertrand publicava com os heróis da revista.
Quando se tem dez, doze anos, as questões da verosimilhança e da densidade narrativa são vistas de maneira diferente; na altura gostava dos livros de Michel Vaillant, hoje acho aquilo tudo básico e datado. Mas acho que é precisamente por isso que gosto do filme de Louis-Pascal Couvelaire que hoje estreia: porque apanha muitíssimo bem essa dimensão juvenil e básica da aventura, porque propõe uma divisão do mundo simples e fácil que a realidade nos mostra ser implausível e impossível.
No mundo de Michel Vaillant os bons são bons, os maus são maus, sabemos com quem podemos contar, e as velhas virtudes éticas da honra, da lealdade, do companheirismo são todos erguidas ao grau máximo; o bem triunfa sempre sobre o mal, mesmo que por um preço. O filme é muito fiel a esse espírito dos livros, mesmo que não os adapte à letra (e ainda bem que não o faz, senão seria ridículo). E, por hora e meia, é bom reencontrar a simplicidade reconfortante dos prazeres de miúdo, ainda por cima filmada com um virtuosismo puramente estético mas bastante convincente.
Claro que o cinema a sério é outra coisa, e "Michel Vaillant" é como uma refeição de junk food. Mas mesmo os nutricionistas dizem que uma refeição de junk food uma vez de longe em longe não é nada de catastrófico. E a comparação até faz sentido - os putos gostam muito de junk food, e eu senti-me puto a ver "Michel Vaillant".
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