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9 de fevereiro de 2004

MEMÓRIA DE ELEFANTE

Hoje não estou muito bem comigo próprio: desiludi um amigo, sem perceber que o estava a fazer, e de repente, quando já era tarde demais, a luz vermelha de aviso acendeu-se. O mal estava feito, contudo.

Sei que falhar não me torna automaticamente numa má pessoa; para mim, contudo, é pior falhar do que ser uma má pessoa, porque não posso culpar mais ninguém senão eu próprio. E compreender o mal que se fez sem querer é infinitamente doloroso: é a dúvida metódica que se instala, para sempre, para nunca mais nos largar. Porque não há fugas nem desculpas: fui eu.

Nestas ocasiões fecho-me ainda mais, remeto-me ao silêncio magoado. Nunca esqueço os meus erros. E quando somo mais um à já longa lista que fui dando ao longo dos meus 35 anos, a minha vontade é encontrar o buraco mais próximo e meter-me nele muito de mansinho para que ninguém se lembre que eu estou ali, que eu sequer existo. E de que serve querer pertencer, querer ser aceite, querer criar laços quando sou eu que me afasto dos outros?

Lembro-me, sempre, de tudo; e é por não ser capaz de deixar o passado para trás que estou condenado à solidão. E talvez eu não mereça outra coisa.

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