Sesimbra: Cabo Afonso, sábado 7 de Fevereiro, 11h26: 9.2m, 28min, 14º C
O dia está como no meu primeiro mergulho de mar, em Março de 1997, quando ainda estava a tirar o curso: o sol como um disco difuso de luz pálida a querer furar por trás do nevoeiro e das nuvens altas, o mar calmo e cinza. Ilusão: saímos do porto de abrigo em direcção ao Espichel, o mar a bater contra as rochas dá a entender que é melhor mudar de rumo. Na direcção oposta, o Cabo Afonso está mais abrigado, mas hoje o mar não está muito para peixe, muito embora haja uns quantos a deixarem-se ir por entre as rochas e os buracos, também eles levados pela corrente que, aqui, perto da costa, nos puxa e empurra com alguma força. Quando os conseguimos ver, que a visibilidade não está para mais de dois-três metros, e assim que algum dos meus parceiros se afasta um bocadinho perco-o logo de vista.
Atribulações: a minha máscara tem a correia torcida, está a entrar alguma água, antes mesmo de descer volto à superfície para ajustar a correia; mais à frente um não consegue compensar, volta ao barco; de repente, o nosso trio reforma-se com um extraviado que se perdeu de outro grupo no mesmo barco por entre a água verde enevoada; com o foco da lanterna vasculho os buracos a ver que peixes ali se escondem, mas não posso ficar muito tempo que os outros, apressados para chegar sabe-se lá onde, já vão mais à frente; entretanto, o segundo faz sinal de ter chegado a meio da garrafa e, no processo de voltar para trás, perde-se de nós - faço-lhe sinal com a lanterna mas ele não vê e sobe à superfície para voltar ao barco; fico eu e mais um, faço-lhe sinal para subirmos juntos e ele faz que não, que quer ficar. Vou insistindo, com alguma irritação, e finalmente lá sobe ele.
Há dois anos atrás, eu ficaria passado da cabeça e seriamente ansioso com estas confusões todas. Pior: há dois anos atrás, seria eu que as faria e não os meus parceiros (um deles "encartado" recente) nesta manhã atribulada. Hoje, surpreendo-me do à-vontade com que as enfrentei e procurei resolver, e ao fim de meia-hora de encontrões, quando subo à superfície, ainda tenho mais de metade do ar na garrafa. É tudo uma questão de prática; quando se tira a carta de condução, não se fica logo a saber guiar. É preciso tempo. Parecendo que não, estou contente.
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