É o nome de um dos filmes que tenho visto no Fantasporto, mas a expressão designa outra coisa - aquela vertigem obsessiva de quando se está fechado num sítio do qual não se quer sair, aquela peculiar sensação de o mundo lá fora não fazer falta e de tudo o que precisamos estar aqui mesmo à nossa mão. Uma viagem de trabalho, mesmo que não para um festival, tem muito disso - de uma rotina inquebrável hotel-trabalho-hotel quebrada apenas pelas refeições da praxe - e, quando o intuito é ver filmes, a "cabin fever" ataca violentamente, quanto mais não seja porque o tempo livre é passado a escrever sobre eles.
O meu limite diário é de quatro filmes - e ao quarto já estou meio esgazeado, precisando rapidamente de ar fresco ou de uma mudança de ambiente. Este ano, essa violência apenas aconteceu uma vez, no sábado, e ontem fiquei-me pelos dois e meio. Até aos três, se houver pelo meio tempo e espaço para cortar com o ambiente, faz-se bem. Isso não impede,contudo, que se a ideia da manhã seguinte for ficar a dormir para recuperar a cabecinha, o dia vai ser uma sucessão difusa de imagens em movimento.
Este ano estou mais soft (o ano passado, em serviço de júri, a exigência era outra; este ano posso seleccionar melhor aquilo que realmente importa ver); não ter trazido computador e limitar o meu acesso online à horinha da praxe diária durante a qual vejo correio e condenso os pensamentos da véspera em dois ou três posts tem ajudado imenso à sanidade mental, mas ainda assim ver muitos filmes por dia, vários dias de enfiada, implica um desgaste que quem está de fora nunca imagina, convencido de que ver filmes não é trabalho. O acto de vê-los pode não o ser, mas implica o acto de pensar sobre eles ou de avaliá-los - e isso é trabalho mental, longe de fácil.
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