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Não costumo ter o João Miguel Tavares, do Diário de Notícias, em conta de rapaz que não sabe o que diz, mas confesso-me perplexo quando o vejo hoje, no quadrinho das estrelas do cartaz de cinema daquele jornal, a dar uma solitária estrela ao novo filme de Jane Campion, "Atracção Perigosa", e duas a "A Casa de Campo", de Mike Figgis. Perplexo porque, mesmo não gostando do filme de Jane Campion (e eu gosto, muito), será difícil que não se reconheça nele um projecto arriscado que ousa mil vezes mais que dezenas de produções correntes de Hollywood -- e porque "A Casa de Campo" é, esse sim, o banalíssimo thriller que ele acusa "Atracção Perigosa" de ser.
Evidentemente, tudo é relativo, e não se trata aqui de questionar opiniões. Apenas de constatar que, muitas vezes, estas brincadeiras das classificações são armadilhas à espera de um passo em falso. O que me incomodou mais na discrepância das notas do João Miguel é que ele coloque um produto de consumo que ele próprio admite não ter sinais particulares como mais digno de ser visto do que um filme mais pessoal e ousado, mesmo que falhado. Está no seu direito, mas...
Também é verdade que o filme da Campion andou a levar porrada de quase toda a crítica internacional. O que também não é inesperado, já que a realizadora neo-zelandesa parece incomodar muito boa gente a quem nunca fez mal nenhum -- algumas das coisas mais simpáticas que li sobre "Atracção Perigosa" consideravam o filme "pedante" ou "uma instalação de galeria". Mas, ontem, com amigos à volta de um televisor que mostrava o trailer, o João, que acha a Meg Ryan uma "seresma" (sic), disse que ela estava "estranhamente sexuada" e mostrou-se interessado, ao que o Rui respondeu "é a Jane Campion, fez dela uma mulher". Ou qualquer coisa do género.
Seja como for, eu gosto da Jane Campion e gosto mais de "Atracção Perigosa" - que me parece ser um filme sobre o modo como nos deixamos levar pelo desejo - do que do "Piano" (e eu gosto do "Piano"). Não sei se isso serve de grande recomendação, mas pronto...
De passagem, já alguém reparou que está a estrear uma quantidade absurda de filmes, alguns dos quais condenados por essa mesma voragem à inglória semana de cartaz que eu julgava definitivamente lá para trás no tempo?
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