Sesimbra: Cabo Afonso, domingo 4 de Janeiro, 11h01; 11.8m, 51min, 14ºC
O azul luminoso e infinito do céu, a esbranquiçar até encontrar o horizonte perfeito circular do azul do mar, o semi-rígido que parece deslizar sobre a água, a gaivota que rasa a superfície à mesma velocidade do barco para de súbito se elevar e se lhe atravessar ao caminho e desaparecer nas minhas costas. A viagem de regresso é sempre o momento em que o mergulho completa o seu efeito: em que todas as preocupações são atiradas para trás das costas e fica a vontade de reter aquele instante, para o recuperar sempre que os dias não correm como gostaríamos.
Antes, quase uma hora de imponderabilidade, a cirandar a pedra viva do Cabo Afonso, a fazer zoom às vidas que ali fluem com as ondas - aqui um choco, ali uma anémona, acolá uma estrela do mar, todos eles alheios à dúzia de visitantes que foi ali à procura de um instante de deslumbre. As minhas barbatanas, mesmo a um metro do chão arenoso, levantam uma pequena nuvem de poeira branca que desenha o movimento da pouca corrente; só o som mecânico da minha respiração, o borbulhar que se escapa dos reguladores interrompe o ruído branco, atmosférico e tranquilizante, do mar costeiro, da água turquesa de visibilidade quase interminável. O som de um mundo em harmonia consigo próprio. A recarga de equilíbrio pessoal que só o mar permite.
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