Pesquisa personalizada

3 de janeiro de 2004

CROQUETES & RISSÓIS #2

Primeiro de Janeiro calmo, oportunidade para pôr em dia mais uns quantos atrasos. Em rigor, um deles não o era - "Négatif" de Benjamin Biolay (Virgin, 2003) já tinha rodado pelo leitor, mas não com a atenção que agora o confirma um magnífico (e ambicioso) álbum que recorda um Lloyd Cole bem mais elegante alimentado aos grandes chansonniers franceses. O disco é duplo, cheio de boas canções, e não faço ideia se chegou a sair cá - nem, aliás, o excelente anterior (de estreia) "Rose Kennedy" (Virgin, 2002). Se o virem por aí, não liguem à capa muito David Bailey e peçam para ouvir antes de comprar, que eu não ando aqui a enganar ninguém.

As três repescagens seguintes são mesmo repescagens - uma compilação de gravações de Boris Vian ("Boris Vian", Philips/Mercury, 2001), gravadas maioritariamente em 1956 (com uma excepção de 1955), o recente duplo best-of de Jacques Brel ("Infiniment", Barclay/Universal, 2003), e a reedição de "White-Out Conditions" dos Bel Canto (Crammed Discs/Ananana, 1988/2003) integrada na colecção comemorativa do aniversário da Crammed.

De Brel já falei noutro post e toda a insistência para o escutarmos será sempre pouca - este duplo com 40 temas (ampliando o anterior "best of" em CD "15 Ans d'Amour") propõe ainda por cima cinco inéditos que Brel deixou de fora do seu último álbum por os considerar inacabados, terminados hoje pelos seus colaboradores de sempre François Rauber e Gérard Jouannest. Não me parece boa ideia colocá-los a abrir - ainda por cima isso obriga a que a primeira metade do primeiro CD seja completada por mais alguns temas contemporâneos e que a primeira canção do disco seja ainda por cima uma versão -, mas é só vontade de botar defeito na edição.

De Vian é delicioso compreender como a sua ironia e a sua irrisão eram mascaradas pela aparente banalidade das composições (apenas aparente), fazendo passar mensagens profundamente subversivas por entre canções perfeitamente normais para o seu tempo (como esse imortal "Je Suis Snob" ou as corrosivíssimas "La Java des Bombes Atomiques" e "Le Déserteur"). A gravação está com boa qualidade sonora, pena a falta de informação na edição (que julgo reproduzir um LP de época). O disco é um mid-price francês indisponível cá (www.fnac.com é sempre uma boa ideia, sobretudo no princípio do ano com os escoamentos de stock).

Dos Bel Canto, na altura muito endeusados por quem estava mais ligado ao "som da frente", fica-me apenas um ligeiro travo "fora de prazo", de disco muito preso ao tempo em que foi feito (e a referência aos Cocteau Twins em formato digital está demasiado presente). Curiosamente, coisas como "Upland" antecipam o "alter ego" Biosphere, que um dos elementos do trio, Geir Jenssen, lançaria anos mais tarde, mas ouvido hoje "White-Out Conditions" tem muito ar de polaroid desbotada de época.

Sem comentários: