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30 de dezembro de 2003

BLOGO, LOGO EXISTO #1

A propósito de um post do Alexandre Monteiro no arame ("Straight Pride", 28/12/2003), discutia-se nos comentários o facto dos blogs "intervenientes" (no caso, os de temática GLBT) parecerem muitas vezes esgotar-se num "circuito fechado" restrito àqueles de idênticas preferências. A questão mais abrangente levantada pelo post e pelos vários comentários feitos parece-me pertinente: quem lê um blog espera o quê? E quem o escreve quer dizer o quê?

Quem lê procura o quê? Uma janela para o outro, de certo modo; espreitar para dentro da cabeça do outro, entrar nela um pouco, perceber até que ponto nos reconhecemos (ou não) no que o outro pensa ou diz. Há algo de voyeurista neste jogo, mas é um voyeurismo que de certo modo é até reivindicado, mesmo procurado, por quem escreve; quem escreve abre-se ao outro, quer como experiência desapaixonada (como reagirá o outro a mim?) quer como ambição, mesmo necessidade de reconhecimento. Uma espécie de ensaio de socialização, um tactear da validade da nossa máscara face ao mundo que nos rodeia.

Mas quem escreve procura também deixar um rasto da sua passagem, um pouco de si, sem outras intenções que não desabafar, soltar o que lhe vai na alma. A democratização da diarística que o blog manifesta pode ter o efeito perverso dos quinze minutos de fama de Andy Warhol. Mas eu prefiro pensar nele como um "blog de notas" diário onde se vão deixando pequenos berlindes, marcadores para sabermos onde estamos na vida que quase sempre procuramos organizar como se fosse uma narração.

Ou, porque não?, talvez o blog seja apenas uma conversa connosco mesmos.


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