Blog-notas de ideias soltas; post-it público de observações casuais; fragmentos em roda livre, fixados em âmbar. Eu, sem filtro. jorge.mourinha@gmail.com
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30 de julho de 2012
eu sou uma mulher muito ocupada
A senhora está de pé na recepção do centro de saúde, com aquele ar enfadado de quem tem muito que fazer à segunda de manhã e não está para estar ali a perder tempo desnecessariamente, consultando o telemóvel todos os dez segundos e afivelando o ar de "eu sou uma pessoa importante e não estou para ficar aqui à espera". Assim que a senhora que está a ser atendida termina, dirige-se à funcionária administrativa com o mal-disfarçado desdém de quem não está para isto, atira com a sua senha para a mesa e diz-lhe, de alto e sem sequer se sentar, "olhe, eu estou aqui à espera só porque preciso de uma justificação para o emprego". Ao longo dos cinco minutos seguintes, chega ao ponto de dizer à funcionária o que ela deve escrever no justificativo, agastada por a sua médica ter faltado. "É a segunda vez num mês, e ela falta sempre à segunda-feira. Eu também gosto de fins-de-semana prolongados mas tenho de trabalhar à segunda-feira." A funcionária pergunta-lhe: "9 e 25?" "9 e 25 o quê?" "São 9 e 25." "Ponha 9 e 30, que são os cinco minutos que eu levo a chegar lá acima. E escreva que não fui atendida por falta da médica, senão ainda acham que eu não tinha consulta nenhuma."
18 de julho de 2012
não há ninguém capaz de me dar alergia
A senhora sentada ao balcão da cafetaria do Corte Inglés não se cala: diz ao homem com quem está e a quem a quiser ouvir que a comida ali é toda uma porcaria e não há um prato de jeito e o atendimento é muito demorado. Dou por mim com vontade de lhe dizer: se não gosta porque é que não vai comer a outro lado?
3 de julho de 2012
745 (entre o filme e o médico)
Um homem andrajoso e sujo entra no autocarro e dirige-se para os lugares das traseiras; atrás de si deixa o odor característico de quem não se lava há muito tempo. Algumas paragens mais à frente, entram os revisores da Carris para verificar os bilhetes. Quando o revisor chega ao homem andrajoso e sujo, este responde "não tenho passe nem tenho bilhete nem tenho dinheiro". O revisor grita para o condutor abrir a porta e o senhor, depois de repetir "não tenho passe nem tenho bilhete nem tenho dinheiro", sai do autocarro. Uma senhora ouve-se a dizer "se fosse eu ele ou não tinha entrado ou pagava a multa como as outras pessoas".
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