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1 de fevereiro de 2009

O PASSADO É UM PAÍS DISTANTE

Estou sentado no Starbucks da 18th com a Castro, a organizar notas, pensamentos, ideias, no dia a seguir à inauguração de Barack Obama e a meio das entrevistas que me trouxeram a São Francisco. Esta foi uma viagem "estranha", no sentido em que é a primeira vez que viajo em trabalho para uma cidade que até aqui só conheci enquanto destino de férias. Duas mesas mais à direita, dois homens de meia-idade de camisa aos quadrados, com aparência de camionistas (só faltam os bonés), discutem o vôo da US Airways que aterrou no rio Hudson. Na mesa à esquerda, um jovem que parece ter voltado do ginásio, a julgar pela toalha que espreita de um pequeno saco, afadiga-se a anotar em pequenos cartões palavras que lê num volumoso manual, com o telemóvel aberto junto ao computador. Uma mesa mais à frente, outro jovem trabalha frente a um portátil aberto. Quem não está ao telefone ou ao computador está a conversar ou a ler o jornal; "The world has changed", lê-se na primeira página do San Francisco Chronicle. Senti-o ontem quando vi, às nove da manhã locais, a inauguração em directo na televisão; sentiu-se a importância, o peso, a gravidade do momento. A ideia de que não vai ser fácil, mas que não temos medo e estamos aqui para as curvas. Apesar de todo o mal que se pode dizer dos americanos, há algo de notável neste desejo de reinvenção, nesta vontade de recomeçar do zero e fazer tábua rasa do que ficou para trás. O passado é um país distante, já dizia o Sérgio Godinho. 

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