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18 de fevereiro de 2007

O DIA DOS MUSEUS

Capuccino na mão, caminho ao sol pela Karl-Liebknecht-Straße em direcção a Museumsinsel, "a ilha dos museus". No impecavelmente restaurado Zeughaus (antigo arsenal do exército) alargado por um "anexo" espectacular construído por I. M. Pei (a cobertura de vidro do pátio interior é assombrosa), está instalado o Museu Histórico Alemão (Unter den Linden 2; autocarros 100/200/TXL).

A exposição permanente sobre a história alema desde a fundação da nacionalidade à queda do Muro de Berlim é fascinante, embora muito do que ali esteja seja necessariamente restrito aos germanófilos (inexplicavelmente, nem tudo está traduzido para inglês). É comovente ver alguns dos utensílios de uso comum das famílias alemãs do século XIX - bonecas, canetas, chávenas, cadernos de exercícios - e pela primeira vez num museu, tenho a sensação de que não estou a visitar uma exposição mas sim um pouco da vida de gente que já morreu.

A mesma sensação surgirá mais tarde no Museu Judeu de Berlim (Lindenstraße 9-14; autocarros 248/M29/M41), uma criação inspiradíssima do arquitecto Daniel Libeskind onde a exposição permanente abrange dois mil anos de história dos judeus alemães; aqui, a quantidade de pertences pessoais de famílias (albuns fotográficos, cartas, bilhetes de identidade, uniformes) dá ainda uma dimensão mais humana à história, com a brutalidade do holocausto nazi sempre no horizonte.

Uma coisa fica muito bem expressa em ambas as exposições permanentes: o facto do "Terceiro Reich" Hitleriano se ter constituido como um ponto de ruptura numa história e numa sociedade. O nazismo recuperou uma série de elementos históricos que haviam estado sempre presentes para os subverter em favor dos seus próprios fins, distorcendo-os e amalgamando-os numa filosofia do ódio ao estranho e ao outro cujas raízes estão nas inúmeras convulsões pela qual o estado alemão passou ao longo das décadas.

No Museu Histórico, está também patente uma exposição temporária (até Abril) intitulada "Arte e Propaganda", contrastando arte política produzida durante a II Guerra Mundial na Alemanha, na Itália, na Uniao Soviética e nos EUA - é curioso ver como os trabalhos provenientes de regimes totalitários sao aqueles que mais consciência têm do efeito que pretendem (e conseguem) obter.

O dia completa-se ainda com uma visita à "Topografia do Terror" (Niederkirchnerstraße, ao lado do Martin-Gropius-Bau; U2 Potsdamer Platz ou U6 Kochstraße), exposição ao ar livre instalada nas ruínas da antiga sede do aparato policial nazi enquanto a cidade nao chega a uma decisão sobre o que construir naquela zona. É um trabalho exemplar de uma arqueologia histórica da arquitectura, descrevendo dois séculos de transformação de um bairro berlinense até à sua destruição nos bombardeamentos aliados de 1945. Ou como quem diz: Berlim é uma cidade que não evita a sua história - antes a exibe, porque só olhando é possível compreender.

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