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29 de julho de 2006

A CIDADE DA AUTO-ESTRADA

Quanto mais tento explicar aos amigos e à família porque estranhei tanto Los Angeles, mais compreendo que Los Angeles não é, de todo, uma cidade como nós, europeus, estamos habituados a conhecer (o que, depois de ter conhecido em São Francisco uma cidade "à europeia" construída na América, apenas sublinha como os EUA não são "um país" mas sim muitos países aglomerados).

Los Angeles é como se Lisboa não acabasse às Portas de Benfica, ao Parque das Nações, à travessia da Ponte 25 de Abril ou à entrada de Algés, mas continuasse até Cascais, até Sintra, até Almada ou Barreiro ou Alcochete, mas sem os troços de descampado, de serra ou de praia ou de verde, substituidos por uma linha constante de estradas e casas e escritórios e armazéns e lojas e centros comerciais. Los Angeles é uma espécie de enorme dormitório que se estica a perder de vista, cujas vias rápidas de cinco faixas de rodagem e entradas e saídas constantes são autênticas "veias" que a alimentam, e onde cada bairro é de tal modo perfeitamente auto-suficiente (com as suas lojas, os seus supermercados, os seus centros comerciais, os seus cinemas, os seus restaurantes) que é perfeitamente possível passar o tempo todo ali sem ter de descer à Baixa ou ao centro da cidade. Los Angeles é uma cidade que não tem alma de cidade: é uma conveniência, um sítio onde se vive e se trabalha e se passam duas horas por dia ou mais ao volante.

1 comentário:

Anónimo disse...

Adorei L.A. O bonito e o feio.Dos zombies "nocturnos" de downtown ao brilho de Hollywood à desilusão do Whiskey a Go Go e do Viper Room.

Vi Incubus numa festa privada da Sony, junto ao estadio dos Dodgers, por baixo de um céu nublado pelo smog, mas foi magnifico.

Adorei o deserto de Mojave, apesar da decadente linha férrea que o atravessa.

Tudo é sujo e projectado à regua e esquadro como sempre imaginei.

A grande mais valia de L.A. é que cada milha está tão entranhada no nosso imaginário que até sair do aeroporto é uma emoção (por causa da célebre cena do Mulholland Drive).

Seja no cinema, seja na literatura (obrigado Kerouac), L.A. é uma presença omnipresente.

Raios, gostava de lá ficar a descobrir aquilo por um anito.