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18 de junho de 2006

FUNDAMENTAL, ACTUALLY.



O Jorge Lopes já tinha avisado (aqui, e em Dezembro!), e o Jorge é um rapaz atento e de bom gosto, mas eu estava com uma certa relutância em acreditar que pudesse ser possível, depois do descalabro de "Release" e apesar dos bons resultados do "Battleship Potemkin". Depois, é o meu guru Andrew Sullivan que, pelo meio dos seus posts sociopolíticos a propósito desse país estranho e magnífico que é a América, tem andado a fazer campanha pela absoluta genialidade do objecto (o último exemplo da coisa está aqui). Agora que já ouvi, acho que é da mais elementar justiça confirmar que, sim, "Fundamental" é um magnífico regresso à melhor forma dos Pet Shop Boys e gostava de acreditar que a culpa não é só de Trevor Horn (ele dos Frankie Goes To Hollywood e ABC). Diga-se, já agora, que não há em "Fundamental" nenhum "Left to My Own Devices" (a odisseia surrealista tecno-disco que Horn produziu a Neil Tennant e Chris Lowe no "Introspective" de 1988), mas há três ou quatro momentos que chegam muito perto ("The Sodom and Gomorrah Show" anyone? ou mesmo o vergonhoso tecno-disco-xunga-New-Orderiano "Minimal"?).

O que é verdadeiramente extraordinário em "Fundamental" é que este é um grande álbum de pop política: os Pet Shop Boys dedicam-no a dois jovens iranianos condenados à morte por assumirem a sua homossexualidade; em "I'm with Stupid" lançam uma diatribe corrosiva à relação George W. Bush/Tony Blair que não fica atrás do "Shoot the Dog" de George Michael; "Integral" é uma ameaçadora meditação sobre o totalitarismo escondido por trás da limitação das liberdades que faz pensar em "V de Vingança". E depois há "Luna Park", sobre o alheamento mediático do mundo lá fora, que resume na perfeição o que é "Fundamental", nas palavras imediatas de Prince: "two thousand zero zero party over oops out of time/ tonight I'm gonna party like it's 1999". A festa de arromba antes do apocalipse.

E tudo isto ao som de alguma da pop descartável mais inspirada da carreira dos Pet Shop Boys. "Fundamental" é fundamental. E, sim, é um dos discos do ano.

1 comentário:

Anónimo disse...

Sem dúvidas, os Pet Shop Boys são uma raridade, um CD magnífico e brilhante.