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3 de junho de 2006

CARREIRA 28

Em frente à Basílica da Estrela, um casal pós-adolescente espera a chegada do eléctrico. Ele está de camisola de manga cava, boné, toalha ao ombro e calças de ganga, ela de T-shirt e saia leve, óculos escuros, com um saco de cartão na mão. Durante cinco minutos ele resmunga porque o eléctrico nunca mais chega, apesar do sinal que marca o tempo de espera pelo próximo eléctrico se manter imóvel nos 4 minutos; entre risinhos convencidos, ele elabora no momento uma pequena teoria da conspiração segundo a qual a informação está ali apenas para enganar o pacóvio que espera pelo transporte. Quando o eléctrico finalmente chega, ele diz-lhe, "bom, miúda, vou bazar" e, sem se despedir dela, vai-se embora contornando o eléctrico enquanto ela, sem olhar para ele, aguarda a sua vez de entrar.

1 comentário:

Aldina Duarte disse...

"Que nenhuma estrela queime o teu perfil
Que nenhum deus se lembre do teu nome
Que nem o vento passe onde tu passas
Para ti eu criarei um dia puro
Livre como o vento e repetido
Como o florir das ondas ordenadas"

Sophia de Mello Breyner

Obrigada por esta história tão atenta e envolvente tão ou mais que a própria realidade!?