Pesquisa personalizada

25 de junho de 2006

AND EACH TIME I GO TO BED I PRAY LIKE ARETHA FRANKLIN

Ainda não ouvi o disco novo, mas a existência de um quinto álbum de estúdio do projecto de Paul Strohmeyer aka Green Gartside, isto é, dos Scritti Politti, levou-me a repescar dois dos meus discos favoritos de todo o sempre, dois dos mais extraordinários álbuns pop que me passaram pelos ouvidos — e perceber que ainda o continuam a ser. Um recorda-me dos meus tempos de liceu e das descobertas que eu fazia no "Som da Frente" do António Sérgio no horário das quatro da tarde, o outro dos meus primeiros tempos a trabalhar na EMI, em "part-time" por entre o segundo ano da faculdade.

"Cupid & Psyche '85" (Virgin, 1985) e "Provision" (Virgin, 1988) são dois monumentos ao hedonismo inteligente, alma soul e enlevo pop capturados dentro da tecnologia polida e precisa da electrónica asséptica, uma espécie de "blue-eyed soul" carregada de subtextos semióticos, paradoxo apropriado a uma década de forma antes de função, fachada em vez de substância (uma das canções de "Provision" chamava-se até "Philosophy Now"), numa desconstrução subversiva e doce das regras e códigos da canção pop que nunca saía das suas fronteiras. "Cupid & Psyche '85" é a exposição, "Provision" o desenvolvimento (ou, se quisermos, a expansão do orçamento para a super-produção, mantendo intocável a capacidade de fazer de uma letra abstracta um lúdico jogo de palavras sobre o amor perfeitamente encaixado numa melodia contagiante). E, sendo dois álbuns absolutamente do seu tempo, cápsulas perfeitas de uma era que já não volta, sobreviveram-lhe com uma ingenuidade desarmante que chega a surpreender.

Mas Simon Reynolds explica tudo muito melhor do que eu.

Sem comentários: