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15 de maio de 2006

ALGUMAS PALAVRAS SÁBIAS DO FUNDO DOS TEMPOS

(...) a constituição da família portuguesa não obedecendo, unânime ou separadamente a nenhum princípio de fé é o nosso descrédito de nação da Europa. Desde a educação familiar até depois da educação oficial inclusive o casamento a desordem faz-se progressivamente até à putrefacção nacional. E tudo tem origem na inconsciência com que cada um existe: em Portugal toda a gente é pai pela mesma razão porque falta à repartição. Do estado de solteiro para o estado de casado dá-se exclusivamente, na nossa terra, uma mudança de hábitos.

Em Portugal educar tem um sentido diferente; em Portugal educar significa burocratizar. Exemplo: Coimbra. Mas na maioria o português é analfabeto e em geral é ignorante; na unanimidade o português é impostor, prova evidente de deficientíssimo.

(...) O português educado sem o sentimento da pátria e acostumado à desordem dos governos criou por si a compensação inútil de dizer mal dos governos e nem poupou a pátria. Estabeleceu-se até, elegantemente, como prova de inteligência ou de ter viajado dizer mal da pátria. Isto deixa de ser decadência para ser impotência física e sexual. (...) O português assimila de preferência todas as variedades de importação e em descrédito das próprias maravilhas regionalista; o comércio e a indústria têm quase sempre de se mascararem de estrangeiros para serem eficazmente rendosos.

(...) É preciso criar o espírito da aventura contra o sentimentalismo literário dos passadistas.

É preciso criar as aptidões pró heroísmo moderno: o heroísmo quotidiano.

É preciso destruir este nosso atavismo alcoólico e sebastianista de beira-mar."


É um excerto do "Ultimatum Futurista às Gerações Portuguesas do Século XX" que Almada-Negreiros escreveu em Dezembro de 1917, uma provocação marcial quase estadonovista na sua defesa de um ideal luso-patriótico e completamente politicamente incorrecta — mas extraordinariamente certeira na sua definição dos atavismos lusitanos. Que, num século inteiro, não mudaram nada. E essa do heroísmo quotidiano, desculpem lá, faz ainda mais sentido hoje em dia.

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