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22 de janeiro de 2006

PORTUGAL EM TRÂNSITO

Há surpresas assim: embarcar num vôo transcontinental de Londres para São Francisco e ficar sentado ao lado de duas velhotas portuguesas de Aveiro que mal sabem escrever e não falam uma palavra de inglês. São irmãs e vão visitar o filho de uma delas que é emigrante em São Francisco. A mãe (cabelo apanhado, brincos de ouro) é igual à D. Berta, a senhora que é a porteira náo oficial do prédio onde vivo; a irmã tem dificuldades em mover-se e anda de bengala. Entendem-se no básico mínimo com a tripulação que não fala uma palavra de português, mas claro que não compreendem quando uma delas se levanta para ir à casa de banho no meio de alguma turbulència, com o sinal dos cintos de segurança apertados, e a hospedeira lhe tenta explicar que não é suposta andar por ali a passear com o avião a abanar, dando origem a algunms resmungos por não a deixarem ir à casa de banho. E claro que não compreendem quando lhes passam para as mãos os impressos que têm de preencher para apresentar na alfândega à entrada dos EUA, dizendo logo que não preenchem nada porque têm passaporte visado, mal sabem escrever e se for preciso eles que preencham. Duas velhotas sentadas num avião que conversam como se estivessem à janela da casa delas e, quando não têm nada que fazer, tentam dormir ou rezam num sussurro incómodo com um rosário nas mãos. Duas velhotas rurais de 80 anos que vêm sózinhas para mais longe do que alguma vez a minha mãe sonhou viajar.

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