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1 de janeiro de 2006

A PERSISTENCIA DA MEMORIA #15

A varanda da Carla e do Celso dá para um enorme edifício de esquina de acabamentos relativamente modernos na Almirante Reis, mesmo à beirinha do largo do Intendente, que, desde que eu me recordo, só lá teve durante algum tempo uma sapataria e um cartaz a anunciar escritórios que nunca devem ter sido alugados. Esse edifício mantém intacta a velha traça da sua função original: a de cinema, primeiro como um dos clássicos das salas de bairro lisboeta especializadas em prolongamentos de estreia, programas duplos e reposições a preços mais populares, o Lys, até 1973, e depois como sala de estreia modernizada a partir de 1974, o Roxy.

O Roxy tem um especial significado pessoal: morando com os meus pais em pleno Bairro das Colónias, bastavam os 5-10 minutos que levava a descer duas ruas para estar no Roxy e, portanto, tornou-se durante algum tempo (sobretudo em finais dos anos 70, quando a programação de estreia era bastante aceitável, antes de descambar aceleradamente quando a Lusomundo tomou a sala a seu cargo até ao fecho em 1988, coincidindo com a progressiva e acelerada decadência do bairro envolvente) o cinema do bairro. Estava todo ele decorado em tons de amarelo — desde os apliques da fachada aos estofos do interior —, tinha um balcão acanhado e, devido às limitações de espaço da entrada, um bar/foyer no piso inferior, por baixo da plateia, e outro numa saída lateral do balcão. Conhecia-lhe os cantos à casa.

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