325 milhas (pouco menos de 500km) separam São Francisco de Yreka, no Norte da Califórnia, terra de veados e ursos e montanhas que é também a verdadeira "heartland America" que vota Bush, caça ao fim de semana e está mais próxima do homem da fronteira do que os urbanos sofisticados que habitam as cidades costeiras. 325 milhas (vezes dois, ida e volta, em 24 horas) feitas inteiramente em auto-estrada de visita relâmpago a um amigo do David, responsável pela manutenção das locomotivas e de alguns quilómetros de linha férrea regional na Yreka Western Railway. 325 milhas que desenham, sem precisar de palavras, a dimensão desmedida e desmesurada deste país-continente, com montanhas majestosas de cumes cobertos de neve rodeados de nuvens altas mesmo ao lado de auto-estradas de três faixas impecavelmente sinalizadas e percorridas pelos enormes camiões articulados que nos habituámos a ver nos filmes.
325 milhas ao longo das quais se define a cultura automóvel deste país demasiado grande e demasiado individualista para ser percorrido de outra maneira. A intervalos regulares, passamos por "rest areas" - áreas de repouso onde apenas há estacionamento, casas de banho, telefones públicos e bancos para descansar, mas nada de serviços - e, a intervalos muito mais regulares, sempre ao lado da estrada, "plazas" ou "landings" ou "courts" repletos de lojas, restaurantes, serviços, hotéis. Denny's Diner, Taco Bell, Black Bear Diner, Casa Ramos (restaurante mexicano), Hilton Garden Inn, Days Inn, Travelodge, Best Western, KFC, McDonald's, Raley's, Safeway, JC Penney, Wendy's, Olive Pit, Pizza Hut (mas poucos Starbucks). Umas atrás das outras atrás das outras, até fazerem parte da paisagem. Até tudo isto, e a própria auto-estrada, ser ela própria uma paisagem tão válida e tão americana como as montanhas majestosas. Até os carros - parte marcas asiáticas que conhecemos com modelos que nem sempre temos cá, parte marcas americanas com modelos que nunca cá vimos - serem eles próprios quase habitantes a tempo inteiro deste universo.
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