Passar o Natal com uma amigdalite não é exactamente topo das preferências de qualquer um de nós, creio eu. Louvados sejam, então, para além do bacalhau no vapor com azeite aquecido com alho picado e do chá de limão com mel da Mansão Bardajona, perdão, Barjona de Freitas (o vate, sensibilizado, agradece), os divinos Abba, perfeita abertura de serão via a fetichista caixa das gravações completas.
Nostalgia de outros tempos (e eu recordo-me dos Abba ganharem a Eurovisão com "Waterloo", em 1974, três semanas antes do 25 de Abril)? Reavaliação de uma banda que foi demasiado tempo cantonada na azeiteirice pindérica do "bubblegum" descartável? Admito que possa haver fragmentos de ambas (e quando eles queriam eram verdadeiramente azeiteiros do pior — vide o inqualificável "Fernando" ou o indesculpável "Thank You for the Music"), mas a verdade é só uma — Benny Andersson e Björn Ulvaeus, os dois Bs, tinham um faro imbatível para compôr canções que sempre souberam ser fáceis e contagiantes sem serem estúpidas, e cuja sofisticação era muito maior do que temos o hábito de atribuir a quem anda nisto da pop de consumo rápido e não escondia que andava em perseguição das modas (o disco sound desavergonhado de "Dancing Queen" e "Gimme! Gimme! Gimme!", a tecno-pop de "Under Attack"). Eram, literalmente, umas atrás das outras e, com raras excepções, nenhuma pior do que a anterior.
Os Abba sabiam-na toda e a magia — como trabalhos posteriores a solo do quarteto provaram — só funcionava naquela peculiar combinação alquímica. Numa véspera de Natal que trouxe algumas estimulantes descobertas auditivas, o facto é que os Abba soaram a "comfort food" — aquele prato fácil, simples, rústico que nunca entrará nos guias Michelin mas que teimamos em não desalojar da nossa lista de preferidos. Agora, desculpem-me enquanto vou ali ouvir mais um bocadinho de Abba.
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