Há muitos, muitos anos, quando Dezembro começava, os meus pais iam comprar um pinheiro de Natal que colocávamos no canto da sala, junto ao televisor, num vaso de barro com terra em cima de um banco baixo, enchendo a casa com o aroma. Numa tarde, depois, eu e a minha mãe montávamos a árvore com enfeites herdados dos meus irmãos mais velhos e de tempos financeiramente menos desafogados, guardados em duas caixas fechadas na despensa — uma estrela de cartão forrada a prata de chocolate; bolas e lanterninhas de plástico colorido, grinaldas de cores brilhantes, algodão a fingir de flocos de neve, luzes coloridas em forma de estrela guardadas numa caixa de cartão que denunciava a sua origem asiática que acendiam e apagavam a ritmos descontínuos durante toda a noite e dia de Natal. E o presépio montado à volta do vaso de barro, em cima de papel de lustro verde, com um pequeno espelho a fingir de lago, e uma combinação de figuras religiosas e bonecos populares portugueses que a minha mãe ia comprando nas viagens que fazia, nos anos 50 e 60, para ver os jogos do Benfica com o meu pai. A árvore ficava montada até depois do aniversário do meu irmão, no dia de Reis (pratinhos de arroz doce com muita canela em cima da mesa), e só depois era desmanchada.
Hoje, tenho uma pequena árvore verde de plástico e metal que monto em cima de um móvel de CDs na sala de estar, e enfeito com uma estrela suspensa da ponta, algumas grinaldas brancas e douradas e meia dúzia de bolas prateadas. Porque a árvore é o único ritual de Natal que sempre me tocou de alguma maneira e não o quero deixar fugir.
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