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12 de setembro de 2005

VITAMINA



Gosto do primeiro disco dos Mesa — "Mesa", Zona, 2003 — porque sinto ali uma tensão não resolvida entre o yin e o yang, entre o apetite de uma pop linear e a vontade de a deixar incompleta, desconstruida, em esboço. Como se os Três Tristes Tigres (com quem João Pedro Coimbra tocou; e Alexandre Soares andava por ali a produzir) tivessem um gémeo pop relutante.

Gosto do segundo disco dos Mesa — "Vitamina", Capitol/EMI, 2005, acabado de editar — mas gosto menos do que do primeiro disco dos Mesa, porque sinto que na maior parte das canções a tensão foi resolvida em favor da pop linear. Há uma extraordinária canção incompleta, desconstruída, em esboço: "Fado Lunar", logo a abrir. Há uma extraordinária canção linear — "Vitamina" — que é genialmente sabotada por dentro pelo contraste entre as transcendentes guitarras líquidas de Jorge Coelho (porque raio este gajo não grava mais?) e as programações rígidas de João Pedro Coimbra. O resto são boas canções pop, com letras de uma rara densidade e de um prazer da língua como não existe na pop cantada em português, sensualmente cantadas por Mónica Ferraz — mas eu sempre esperei que os Mesa fossem mais do que apenas uma banda pop. "Vitamina", a canção, explica o que há de bom e o que vai mal nos Mesa 2005.

sou a doença e também a cura.
sou um mal que perdura,
vitamina que não actua.
speed que não fissura a razão,
tal e qual assim.
porque é assim que eu me revejo:
maltratada, disseminada.

pelo mal que fiz,
mereço não ser lembrada.
perder o apetite,
ser fulminada.

estes são os dias em que nada bate certo.
não me sinto forte e o futuro é incerto.
olha! é assim: sem palavras, não há cura.
e o meu coração bate à sorte, à sorte.

eu não sei o que me demora.
não há nada de novo em mim.
não sei o que me falta agora.
talvez seja ir embora.

estes são os dias em que nada bate certo.
não me sinto forte e o futuro é incerto.
olha! é assim: sem palavras, não há cura.
e o meu coração bate à procura.

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