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17 de setembro de 2005

CRISE? QUAL CRISE?

Sábado, 12h30, IKEA Alfragide — Portugal não tem dinheiro, o crédito mal parado nunca esteve tão alto, o país está a braços com uma seca histórica, depauperado por um Verão de incêndios, desiludido com um governo desacreditado. E o IKEA está cheio de gente que passeia, tira medidas, atira objectos para os sacos amarelos, enche carrinhos de compras com móveis, faz fila nas caixas de saída.

Sábado, 16h00, SIC Notícias — numa peça noticiosa sobre a manifestação do PNR contra a emissão do programa "Esquadrão G", um dos cinco apresentadores do programa diz que, num país onde há fome, miséria, seca, incêndios, que se faça uma manifestação pública contra a homossexualidade é não ter a noção das coisas.

Sábado, 18h30, casa dos meus pais — a minha mãe interrompe repetidamente o meu pai enquanto este narra, da sua maneira complicada, a discussão parlamentar sobre a dissolução da Alta Autoridade para a Comunicação Social e as propostas do governo para a entidade que a substituirá, com especial atenção ao discurso de Fernando Rosas, do Bloco de Esquerda. A minha mãe insurge-se contra o que ela diz ser o regresso da censura, antes de se insurgir contra a prestação televisiva de Manuel Maria Carrilho no debate das autárquicas de Lisboa, que ela acha digna de uma pessoa mal educada e sem maneiras. Enquanto isso, a Sport TV passa o jogo da Liga Inglesa entre o Aston Villa e o Tottenham.

É assim Portugal, em Setembro de 2005.

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