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2 de julho de 2005

LOGBOOK #28: AVENTURA É AVENTURA

Berlenga Grande: Primavera, sábado 2 de Julho, 12h31: 22.9m, 40 min, 14ºC

Dizia o Alexandre que as Berlengas são o mergulho mais próximo dos Açores que se consegue em Portugal Continental (ou, enfim, quase, visto que tecnicamente as Berlengas são ilhas, mesmo que a pouca distância do continente) em termos de visibilidade. Mas, nesta estreia minha (e da recém-encartada Susana) no mui badalado destroço do Primavera, a água estava mais próxima de Sesimbra num dia mediano (visibilidade aí de cinco metros com boa vontade, muita suspensão, frio de cortar a partir dos 12 metros). Mesmo os mergulhos de eleição têm dias não, apesar de se perceber que os destroços do navio (em melhores condições do que o único termo de comparação que possuo, o célebre Riva Gurara) fervilham de vida, com restos do mármore italiano que o navio transportava quando se afundou espalhados pela área. Não fossem as malfadadas cãibras a trair a falta de esforço das pernas (derivada à infame inflamação do joelho) e tudo teria sido bem melhor...

Não foi só a água sesimbrense das Berlengas que provou ser uma surpresa nesta viagem-relâmpago à reserva natural (com direito a passeio a pé até ao farol pelos trilhos abertos pelos humanos e ferozmente guardado pelos bandos de gaivotas e suas crias que entram em histeria colectiva assim que alguém se aventura para fora). Os 20 minutos de semi-rígido desde Peniche até à ilha pelo meio das vagas largas ao largo do Cabo Carvoeiro pareceram uma viagem numa montanha-russa, sim, mas mais numa montanha-russa tímida dos anos 50 do que nos colossos que desafiam a força da gravidade hoje; ou então uma cavalgada num daqueles touros mecânicos. Dizem-me que hoje o mar esteve anormalmente bom na travessia, embora tenha havido três ou quatro saltos — não quero saber como será num dia mau. Mas houve algo de mágico quando o barco parecia deslizar por entre as altas ondas, e percebi um pouco do que o pessoal do surf deve sentir. E, no regresso, a viagem fez-se como se não houvesse vaga (mas havia).

O segundo mergulho ficou por fazer, à conta (surpreendente) de peso a menos e de uma intempestiva incapacidade de descer abaixo dos dois metros. Mas nada disso importa quando, no regresso, já à chegada ao porto de Peniche, passadas as formas geométricas esculpidas na rocha pela força dos elementos, o vento me bate no rosto e sinto o prazer de um dia bem passado. Há ainda uma hora de viagem até Lisboa e gasolina a meter no carro, o equipamento todo para lavar, mas isso não interessa nada. Passei um belo dia de aventuras. Prosaicas, é certo, mas aventuras — porque tudo pode ser uma aventura, se assim o quisermos. E, hoje, quero.

(com um obrigado, muito grande, à Susana — bem-vinda! — e ao grande Alexandre, pelo convite, pela simpatia, e pela companhia)

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