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27 de julho de 2005

HUSH HUSH

Há vinte anos, quando Aimee Mann ainda estava numa banda chamada 'Til Tuesday, escreveu uma canção premonitória chamada "Voices Carry", sobre uma relação abusiva contada do ponto de vista da mulher agredida. O teledisco terminava com Mann a levantar-se no meio de uma récita operática e a gritar a letrada canção, explodindo em público numa situação em que já não podia ser mandada calar, num colapso nervoso literalmente em público.

Como gerir esse pudor de nos protegermos com a necessidade por vezes desesperada de chamarmos a atenção? Como gerir a necessidade de amor e compreensão com um mundo de fachadas e imagens? É por isso que tanta gente cada vez mais nova começa a sofrer cada vez mais nova de esgotamentos, colapsos, depressões e outras doenças do foro psicológico. De repente, as pressões tombam sobre a cabeça de quem não está preparado para elas — porque sempre nos preocupámos mais em proteger do que em expôr. E se só na exposição, na revelação, estas emoções fizessem sentido?

"Hush hush, keep it down now, voices carry — cantava Aimee Mann. "Chiu, não fales alto, ouve-se tudo". Que se ouça. Que se fale. Que se desabafe, com o necessário pudor, com a necessária contenção, mas que nada se cale em nome de um pretenso decoro de que se disfarça a hipocrisia. Que se deite cá para fora o veneno — só assim se conseguirá encontrar o antídoto.

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