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21 de junho de 2005

GROWING PAINS



Aquilo de que mais gosto em J. K. Rowling é o modo certeiro como ela descreve a adolescência e as suas paixões impetuosas, o seu tudo ou nada, a sensação de que o mundo começa e acaba em cada triunfo ou derrota. Os livros de Harry Potter, para lá da extraordinária criação e manutenção de um universo paralelo de perfeita coerência, valem também (talvez essencialmente) por essa tradução dos estados de espírito volúveis típicos de uma certa idade, pela capacidade de expressar as emoções que todos sentimos quando parecemos ser demasiado grandes para a nossa pele. Todos nós sentimos a certa altura, como Harry Potter, que o mundo é demasiado confuso e complicado para aquilo que podemos abarcar de uma só vez — e há quem continue a senti-lo mesmo já adulto.

Dito isto, as quase 800 páginas de "Harry Potter e a Ordem da Fénix", lidas no original, esmagam pela inteligência narrativa: tudo está no seu preciso lugar e o que ficou por dizer ficou-o, certamente, por um motivo. Rowling não é uma grande estilista, mas a sua escrita é de uma simplicidade enganadora, e a maneira frontal como lida com os lugares-comuns, sem os evitar nem os esconder, é irresistível. É verdade que, desta vez, não devorei o quinto dos sete livros da série com a mesma velocidade, mas essa resistência é redimida por uma segunda metade com o embalo dos velhos "cliffhangers", onde muito fica por explicar (para os dois últimos volumes...) e se revela finalmente um dos segredos pedra-de-toque da série.

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