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15 de maio de 2005

NÓS E OS OUTROS #2

Por vezes, o meu sucesso foi embaraçoso. Entre 1981 e 1990, não vi nada, não prestei a atenção suficiente e, felizmente, creio que isso me salvou, essa espécie de inconsciência permitiu-me manter a minha linha, que não era assim tão fácil de manter devido a todas essas pressões, todas essas armadilhas. De repente agradamos à imprensa especializada, à imprensa popular, depois de repente já não agradamos a ninguém, e depois volta tudo ao que era. As coisas não param de mudar e é preciso que nós nos mantenhamos idênticos. Forçosamente, há derrapagens, quando dou por mim em posters em quartos de miúdos, começo a pensar "ai ai", por muito agradável que seja pensar que sou capaz de pôr alguém a sonhar...

(...) Perdeste-te por vezes nesses jogos de máscaras?
Ultrapassou-me, a certa altura. Mas tinha mais a ver com a maneira como falavam de mim do que comigo próprio. Sempre me senti muito mal à vontade com os elogios, prefiro que me ataquem do que me elogiem.

(...)Alguns anos mais tarde, em meados dos anos 90, acabaste por ir-te abaixo e fugir. A fuga era então a única solução?
Estava a sair de "Paris Ailleurs" e "Mon Manège à Moi", era o caminho real: números um, singles de êxito... E contudo tornava-se invivível, tinha que me afastar, dar-me o direito de envelhecer, de mudar. Decidi então ir viver sozinho para Londres, visto que em Paris estou sempre rodeado de gente. Refiz-me uma vida, sem ser Etienne Daho, só um tipo de novo ligado ao quotidiano. Desde que tinha saído da faculdade, apenas tinha conhecido a existência de cantor, uma vida anormal, ao lado da vida, enquanto que as minhas canções apenas se deveriam alimentar da vida, dos encontros casuais, do perigo. Em Londres, coloquei-me em perigo na solidão mais total. Face a mim próprio, tive de fazer um balanço. Bastante positivo: era um estudantezinho autista, e agora canto há 13 anos, algumas das minhas canções acompanharam a vida de alguma gente. Mas há anos que não tinha tido tempo para criar essa distância, para arrumar a minha vida."


(Etienne Daho em entrevista a JD Beauvallet da revista Les Inrockuptibles, Abril de 2000)

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