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24 de abril de 2005

LOGBOOK #25: CHAMA O GREGÓRIO

Sesimbra: Cova da Mijona, domingo 24 de Abril, 10h51; 11,6m, 11 min, 13º C

O "passeio à rua da asneira" é uma velha definição lá de casa para aquelas coisas que se fazem debalde ou que correm completamente ao contrário do que se esperaria — o que foi exactamente o que aconteceu neste "magnífico" dia de mergulho, um daqueles em que uma pessoa se pergunta "mas exactamente porque é que eu faço isto?".

No exacto mesmo spot que, a semana passada, estava cheio de pedras, vida, visibilidade extraordinária e água calminha, esta semana não se passa nada. Ou melhor: passaria, não fosse o ferro ter derivado o barco para longe das pedras e em cima da areia, ainda por cima com uma água em verdadeiro caldo verde de visibilidade quase zero. Eu e o Pedro descemos pelo cabo, chegamos lá abaixo, não vemos um palmo à frente do nariz, voltamos a subir, 30 segundos no fundo se tanto. Cá em cima, perguntamo-nos se valerá a pena voltar a tentar; o resto da "expedição" é um grupo de amigos do Norte em fim-de-semana de mergulho na terra dos mouros, para quem visibilidade deste calibre é o pão nosso de cada dia nas imersões nortenhas, que descem todos na maior. Lá decidimos tentar a nossa sorte e, chegados aos onze metros, nadamos em direcção à costa durante alguns metros, sem contudo encontrar a dita cuja pedraria. O Pedro faz-me sinal para fazermos meia-volta, fazemos meia-volta, ao fim de algum tempo sem encontrarmos o cabo faço-lhe sinal para subirmos antes que nos perdamos. Estamos, afinal, a poucos metros do barco e passaram-se dez minutos de imersão numa espessa sopa de suspensão verde e algas em flutuação. O pior, contudo, sei-o bem, está ainda para vir.

E, ao fim de dez minutos à superfície no barco balouçante, à espera que os outros dez invictos regressem do passeio, começam os arranques, os espasmos, a bílis — o enjôo de mar em todo o seu esplendor e beleza, que não mais me largará na longa viagem de regresso a Sesimbra. Longa, porque, para além da quase hora de espera pelos companheiros, tenho ainda de passar por uma visita de rotina da Polícia Marítima; um pedido de ajuda de um grupo de caiaqueiros em problemas (que acabarão por ser socorridos, depois da nossa primeira abordagem, pela Polícia Marítima); e a mudança de depósito de combustível do barco. À minha volta, os simpáticos e bem-dispostos nortenhos mostram-se compreensivos da minha situação (um deles confessa-se igualmente bastante sensível a movimentações ondulatórias) enquanto mastigam bolachas sortidas e, imagine-se, rissóis de camarão. Eu agarro-me à minha garrafa de água de litro e meio, aterrorizado que um mero golo me devolva os espasmos biliares que bem conheço e que tanto detesto. Atracando, sou o primeiro a sair, com a garrafa de água na mão, e dirijo-me lentamente ao centro enquanto os outros descarregam o material, para tirar o fato húmido que me está justo e vestir uma roupinha mais quente, reencontrar o equilíbrio.

Esqueço-me que voltei a mergulhar sem problemas com o tal quilo de lastro a menos, que a decisão de abortar o mergulho foi tomada em plena consciência, que apliquei com alguma lucidez noções básicas de navegação subaquática, que a subida do mergulho foi feita devagarzinho e na perfeição; esqueço-me de tudo isto porque não dá realmente grande prazer mergulhar pelo prazer nestas condições de visibilidade e, quando ainda por cima o gregório ataca, tudo se transforma num pesadelo. Nem as pulseiras homeopáticas funcionam. Mas também é verdade que, no mais das vezes, o mergulho não é isto, e isto é a excepção.

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